sábado, 3 de julho de 2010

Homenagem a mística celeste



O DIA QUE GANHAMOS COM DOIS GOLEIROS. por Luis Felipe dos Santos - Blog "Impedimento" Uruguai.
E então, o árbitro deu uma falta que não existiu. Não lembro quem cobrou. O fato é que a bola foi para a área celeste. Muslera saiu mal. Sobrou para o ganês. Ele defendeu com o joelho. Adiyiah conseguiu o rebote e chutou para o gol. E Suárez defendeu. Suárez, o atacante defendeu. Pênalti para Gana. Classificação para o Uruguai.
Quando um jogador de linha, ainda mais um jogador importante como Suárez, defende com a mão uma bola na linha do gol no último minuto da prorrogação, ele simplesmente joga toda a sua fé na esperança. Se a bola passa, acabou a Copa. É preciso um último recurso, a última chance, a cartada final. É a morrer. A morir. É assim que Suárez foi ensinado a jogar, e por isso ele não teve dúvidas. Defendeu a bola. Saiu chorando. Eliminou o Uruguai da Copa? Não...Classificou o Uruguai às semifinais.
Isso porque ele deu uma última chance à mística. Schiaffino sorriu. Obdulio vibrou. Cea, Nasazzi, Abdón Porte. Todos pararam em frente a Asamoah Gyan, um dos mais brilhantes atacantes dessa Copa, e disseram: não. Estava diante de Muslera: Gyan, as vuvuzelas, a África inteira, o mundo e todo o destino possível. Toda a lógica. Pênalti aos 15 minutos da prorrogação. Acabou. Acabou?

Trave.

E Suárez apareceu vibrando, sozinho. Sem abraçar ninguém. A maior vibração da sua vida, talvez. O maior alívio, certamente. Vibrando sozinho, na saída do túnel. Sem ninguém para acompanhar, a não ser um delegado da Fifa incrédulo. Suárez defendeu a bola, foi o segundo goleiro, classificou o Uruguai e escreveu sua página na história de todas as Copas do Mundo. Suárez poderia ser um atacante promissor do Ajax. Tornou-se uma lenda.
Uruguai x Gana, até agora, é o maior jogo da Copa, e talvez de todas as últimas quatro Copas. Não sei quantas, é difícil dizer, mas o fato é que eram dois times que, conscientes das suas limitações e da enorme vontade de fazer história, jogaram muito mais do que o enfado. Jogaram praticamente a chance de viver e a chance de escrever um nome no livro eterno da Fifa. Uruguai e Gana agradeciam por estar ali, quando entraram em campo, e lutaram pela história em cada segundo do jogo. Marcaram demais. Atacaram o tempo todo. Era lá e cá. Chutes a esmo, 200 escanteios uruguaios, chances e mais chances. Não parava a Jabulani, quase nunca.
O gol de Gana foi no final do primeiro tempo, merecido, foi um grande primeiro tempo. Mas o Uruguai voltou bem melhor no segundo, e com uma bola parada, uma falta de Forlán, conseguiu o gol. 1×1. Resultado justíssimo. Na prorrogação, dois times mortos continuavam tentando. Por que não se matam cavalos? Isner e Mahut. Tentavam, e tentavam, e tentavam, sem parar. 1×1. Prorrogação.
O cenário que foi descrito no primeiro parágrafo desse texto poderia resumir tudo o que foi essa Copa do Mundo, mas havia mais. Havia uma decisão por pênaltis. Gana jogando a África, Uruguai jogando a mística. Jogadores de segunda classe no contexto mundial, aquele contexto que escreve capas de revistas, de jogos de videogame, de filmes, de bandeiras, de banners de marcas de roupas esportivas. Nenhum deles estava em campo. Eram dois times. Não tão grandes no futebol, mas gigantes na vontade, e que fizeram do futebol um esporte ainda maior. Por que tentaram, e jamais desistiram.
Asamoah Gyan, que perdeu o pênalti, foi o primeiro a cobrar. E com macheza, marcou o gol. O Uruguai foi convertendo. Mas havia Fernando Muslera no gol, de amarelo. Que pegou o pênalti de Mensah, e ainda um outro. Para encerrar, Loco Abreu. Há milhares de maneiras de bater um pênalti decisivo. Loco Abreu resolveu dar uma cavadinha. 4-2.
Galeano vai escrever uma Bíblia sobre esse jogo. Mario Benedetti, estivesse vivo, escreveria uma antologia. Schiaffino e Obdulio sorriem. É a mística celeste de volta. No deboche de Loco Abreu. Na garra de Forlán. Na inteligência decisiva de Muslera.
E especialmente, na coragem de Luís Suárez.
Fosse eu Joseph Blatter, entregaria a taça no final desse jogo. Acabou a Copa.
Até a vitória,
Luís Felipe dos Santos

Do mesmo blog que divulgou este texto logo após o jogo, fiz questão de selecionar alguns comentários "em chamas" dos uruguaios... um deleite:

1. Eduardo | 02/07/2010 at 18:44
já nem me importo se o mundo acabar em 2012!!!!
AGUANTE CELESTE, CARAJO!!!!!
2. Chico Machado | 02/07/2010 at 18:52
ESTOU CHORANDO MATAMBRE E REVENDO O JOGO AGORA.
3. rafael botafoguense | 02/07/2010 at 18:52
EU VI !
4. ARBO Y ROJA | 02/07/2010 at 19:17
El instinto de Suárez, las manos de Muslera, el loco y su camisa de fuerza. No hay poesía más grande, no hay cielo para tanto celeste!
6. col | 02/07/2010 at 20:18
Epico.
7. catarina cristo | 02/07/2010 at 20:35
Na hora dos penaltis fui para a recepção do predio, ver os tiros na TV dos seguranças.
Coração pintado de Celeste aqui. Lindo demais.
8. douglasceconello | 02/07/2010 at 21:20
Vou mandar fazer um TRAPO com o Suarez defendendo e pendurar aqui na sacada.
9. Wilson | 03/07/2010 at 06:08
E eu tive que ouvir de um comentarista da TV inglesa que o lance do Suarez era “contrario ao espirito do esporte”.
10. Bruno L. | 03/07/2010 at 13:54
E porra, imprimam e distribuam esse Cover It nesses campeonatos de Fifa no PS3, lotados de guri de apartamento que precisam aprender o que é futebol.
11. FERN | 03/07/2010 at 14:09
EU ESTOU VIVO, AINDA… CHOREI E COMO CHOREI NÃO TENHO FORÇA PRA DESCREVER O QUE PASSEI ONTÉM A TARDE, SÓ SEI QUE NUNCA PASSEI POR TUDO AQUILO
LA CELESTE EU TE AMO!!!!
12. Caio Pasquali Chies | 02/07/2010 at 22:09
Mágico!!
Obrigado Uruguai!!!!
Isso aí é futebol de verdade!
Desliguem os video-games, vistam uma camiseta azul, corram pras ruas pra chutar uma bola!!

Nenhum comentário:

Postar um comentário